Tema: Fisioterapia e Psicanálise buscando melhores condições de vida a portadores do Mal de Alzheimer e seus cuidadores.
Entrevistadora: Alcedina Cézar – Psicanalista
Entrevistado: João Moreira – Fisioterapeuta, especialista em Neurofuncional e Psicomotricista .
– João, tenho trocado ideia com alguns colegas psicanalistas sobre possíveis ações da Psicanálise em auxílio a portadores de Alzheimer e seus cuidadores e nos deparamos com questões relacionadas à condição física dessas pessoas. De que forma poderia a Fisioterapia auxiliar nessa questão?
– Alcedina, a Fisioterapia poderá contribuir na manutenção dos movimentos, mas também, quando ainda no início da doença, poderá melhorar os movimentos. Uma das grandes perdas do portador de Alzheimer é o movimento e o movimento é tudo.
Significa qualidade de vida. Ele, no entanto, quase que desaprende os movimentos e a Fisioterapia pode retardar um pouco essa perda, desacelerar esse processo degenerativo, juntamente com os medicamentos, claro.
As ações motoras, o equilíbrio, a coordenação motora, a força, o cognitivo também sofrerão perdas e a Fisioterapia atuará para manter ou melhorar a qualidade desses movimentos, dessa relação que ele deverá ter com as pessoas, com as coisas que ele pratica, com um pouco de atividade ocupacional.
O movimento significa melhor postura, melhor respiração, melhor circulação, melhores funções viscerais, melhor ação dos aparelhos respiratório/circulatório. O Sistema Nervoso Central necessita constantemente ser exercitado e nada melhor do que manter suas funções intelectuais, cognitivas e também motoras.
Na realidade, a função motora depende disso tudo e vice-versa. Se for possível manter as funções cognitivas, intelectuais e juntamente com as funções motoras, postural e respiratória, com certeza, isso irá contribuir muito com a manutenção do bem estar, com a prevenção de maiores complicações do Mal de Alzheimer.
João, entendo que a Psicanálise e a Fisioterapia seriam boas parceiras nessa luta, desde quando os familiares do portador de Alzheimer iniciem precocemente o tratamento, mesmo antes do diagnóstico final, visto ser muito complexo esse diagnóstico. Dessa forma, assim que aparecerem os primeiros sintomas de perda de memória e uma certa dificuldade de coordenação, se ambas as áreas entrarem conjuntamente em ação, certamente o paciente ampliará sua qualidade de vida e a manterá por mais tempo.
Uma vez que a Psicanálise trabalha com o inconsciente, trazendo-o para o consciente, é fundamental que esse processo seja iniciado antes que se perca a fala ou totalmente a memória. O que você pensa sobre isso? E com relação aos cuidadores, onde a Fisioterapia poderia ajudar?
Alcedina, concordo com você quando afirma a necessidade de um tratamento precoce, independente do diagnóstico. Mesmo sem um diagnóstico definitivo o paciente poderá ser treinado e capacitado. Nós não necessitamos de um diagnóstico definitivo para tratar qualquer tipo de alteração neuropsicomotora.
Estando com alguma alteração ou incapacidade motora, cognitiva, nós podemos treinar o paciente melhorando sua condição em qualquer situação neurológica, incluindo o Alzheimer. Mais um ponto importante: As reavaliações fisioterapêuticas, as evoluções fisioterapêuticas, o acompanhamento do fisio, ajudarão muito o médico no tratamento de seu paciente com Alzheimer, até para a medicação e as questões clínicas. Essa parceria entre o fisioterapeuta e o profissional médico, com educador físico ou cuidador é fundamental. Quero esclarecer que o Alzheimer é um diagnóstico clínico.
Ele pode ser dado numa fase inicial ou tardia. A Fisioterapia, no entanto, tem seu próprio diagnóstico e o diagnóstico fisioterapêutico está ligado a um dano, a uma limitação funcional e a uma incapacitação do paciente.
Dano representa uma perda da sua função motora, uma anormalidade da estrutura funcional anatômica, fisiológica ou psicológica. Limitação funcional é uma dificuldade de realizar uma tarefa de forma eficiente. Incapacitação significa limitações diversas na capacidade de atender às demandas sociais e ocupacionais.
Essas definições são importantes para facilitar o desenvolvimento de uma conduta de tratamento e acompanhamento por parte do fisioterapeuta. O fisioterapeuta, conhecendo e classificando as disfunções em seu fisiodiagnóstico, poderá iniciar qualquer programa fisioterapêutico. Independentemente dos diagnósticos médico ou clínico, iremos tratar das disfunções.
Quanto ao cuidador, ele passa a ser o elo fundamental entre a família e o terapeuta. Algumas vezes, o cuidador é um membro da família. Quando se tratar de um cuidador profissional, ele poderá já vir treinado para auxiliar o paciente nos exercícios básicos, mas, ainda assim, deve ser treinado/capacitado pelo fisioterapeuta para manter toda essa parte motora da qual a gente já falou.
Há exercícios apropriados para cada caso, que necessitam da orientação do fisioterapeuta e uma vez que o cuidador vai estar mais tempo com o paciente, então a capacitação é fundamental. Dessa forma, nos ajudará a elevar os níveis motor, de consciência e cognitivo do paciente. A capacitação ocorrerá no momento em que o acompanhante participe das sessões de Fisioterapia do paciente, quando será orientado pelo fisioterapeuta para auxiliar o paciente nos exercícios a serem feitos em casa.
É necessário considerar que o portador do Mal de Alzheimer é um paciente complexo, com muitas questões psicomotoras. Muito bom,
João, também a Psicanálise poderá auxiliar o cuidador, quando este seja um membro da família e não um cuidador profissional, fortalecendo e equilibrando seu ego, de forma a que ele possa entender e lidar bem com seus sentimentos.
Não é fácil cuidar de um ente querido, que esteja passando por uma situação de perda de toda a sua identidade. O caminho é bastante doloroso para quem o acompanha, porque implica em esquecimento de suas histórias em comum; confusões sobre a própria identidade e a do outro; agressões físicas e verbais que, embora sejam destinadas a um ser desconhecido, o acompanhante admite para si e sofre muito com isso.
Enfim, o Mal de Alzheimer é uma doença cruel, que não tem cura, mas que poderá ter seus efeitos adiados ou diminuídos se a família submeter o doente a tratamentos precoces.
Estamos prontos para atendê-los. Nos procurem quando precisarem.